quarta-feira, 30 de junho de 2010

"Busque, mas sem Buscar!"

Havia na Índia certo guru, de tradição advaita, que chamavam de Yogaswami. Um de seus lemas favoritos era "busque, mas sem buscar!" Ora, parece muito incongruente, é o mesmo que dizer 'faça sem fazer' ou 'procure sem desejar', algo assim. Bom, mas ele deixou explicado: enquanto estivermos buscando a Deus em meditação, existem dois - Deus e o buscador ou devoto. Mas, ele não pretendia dizer que desistíssemos de nossa sadhana. O sentido real do que dizia é que, para aprofundar nossa meditação, enquanto sentados em postura de lótus, fazendo pranayama, a fim de intensificar este estado, pare de procurar e comece a realizar que você já é Aquilo pelo que está procurando. Enquanto houver procura Shiva não foi encontrado, pois procurar significa que há dois e Ele é um só! Como alcançar Isto? Yogaswami dizia: "Pare de procurar, apenas seja!" Pensando bem nisso, vemos que as palavras continuam sendo enigmáticas. Mas, ele continua a nos explicar: "Renuncie à consciência que vê e registra o que foi visto. Torne-se apenas o OM, seja um com ele e mergulhe na Realidade Última!"

terça-feira, 29 de junho de 2010

Lustrando o assoalho sempre...a prática do dia a dia!

Precisamos ter alguma auto-disciplina. Na vida nada se pode alcançar sem prática e duro esforço. A sociedade ou a igreja organizada lhe dará certos princípios gerais, um arcabouço dentro do qual você terá que atuar. Mas, compete a mim a melhor forma de agir. Ninguém pode me ajudar nisso. Existe apenas um Princípio ou Divindade em torno do qual temos que nos organizar. De verdades inferiores ascendemos às verdades superiores. Isto é tudo o que entendo hoje, mas, à medida que reflito, verdades mais amplas se abrem para mim. Temos que prosseguir passo a passo, desde o mais denso ao mais sutil. A cada dia nossa visão tem que se tornar mais e mais clara e firme. Digamos que eu queira manter um aposento limpo. Todos os dias faço um pouco de faxina e assim as coisas são mantidas limpas e em ordem. Esse pouquinho que seja será suficiente, mas deverá ser feito com regularidade, sistematicamente. Na Índia, confortos materiais são mínimos. Minha primeira experiência com piso de tábuas foi em Shillong, no clima frio dos Himalayas, onde as casas de madeira são construídas sobre pilotis e assoalhadas. Anteriormente, vivera sempre em climas quentes, em casas pavimentadas com cimento polido que duravam séculos. O assoalho de Shillong era sem vida e eu não tinha condições de usar tapetes ou acarpetá-lo. Alguém me sugeriu que fizesse um polimento com óleo de linhaça, mas ainda assim continuou fosco e embotado. Assim, todas as manhãs, esfregava o assoalho com um pedaço de pano. As pessoas riam de mim e me perguntavam por que fazia aquilo. Eu lhes respondia que não gostava daquele piso tão sem graça. Na verdade,  nunca ouvira falar no uso de ceras de polimento, mas com o simples esfregar aquele pano seco, diariamente, o piso adquiriu um brilho tão bonito, que aquelas mesmas pessoas pensaram que eu havia utilizado alguma cera. Veja só: apenas um suave polimento e nada mais!
É assim que devemos organizar nossa vida interior. Todos os dias dar um polimento. “Não disponho de muito tempo, não tenho paciência e nem o equipamento!" Pense como quiser, mas faça o que puder – simplesmente faça-o, esfregue-o, limpe-o todos os dias; é o bastante. Então, lentamente, a coisa desabrocha por si mesma. O melhor possível para a minha personalidade vem à tona. E quando isso acontece o desabrochar é mais amplo ainda, porque em essência, nós temos o Poder Divino dentro de nós e você acabou de criar a situação para que ele se abra por si mesmo. E se isso acontece você ganha força para fazer mais e mais.
Você não precisa ficar desanimado nem desencorajado por não ter podido fazer isso ou aquilo - “Oh, eu tinha tomado uma decisão, tropecei e então caí.” Levante-se e caminhe novamente, basta isso! O fracasso não está somente no fato em si; o verdadeiro fracasso está em aceitar o fracasso. Portanto, não o aceite. Levante-se e comece de novo a caminhar e você aprenderá. Isso é o que eu acredito que se deva fazer na vida espiritual. Isso é o que eu considero prático, conforme meu entendimento. Erros existem, não importa; são grandes lições recebidas. “Eu simplesmente não posso seguir esse caminho, não o compreendo; mas sigo o que posso e o que compreendo. A longo prazo é tudo uma soma e lentamente nos chega uma mudança, uma transformação.”
Você não deve entregar-se à tentação de pensar: “Eu não tenho aptidões para isto!” Este tipo de autocrítica, de autodepreciação, na verdade não é digna de um aspirante espiritual. “Deus me deu tanta força interior que eu farei tudo; então, vamos ver o que acontece!” Esta tem que ser a atitude.
(Resumo de uma palestra do Rev. Swami Bhavyananda, diretor espiritual do Centro Ramakrishna Vedanta, Londres)

segunda-feira, 28 de junho de 2010

A Realização do Ser é a mais valiosa das conquistas.

Depois da realização do Ser, você irá entender que é apenas Ele, e não o ego, que desempenha todas as atividades. É o próprio Ser que se acha animando as atividades de todas as pessoas. Quando você tiver sua própria experiência terá completa confiança nisso e também naquelas atividades em que Ele lhe colocar. 
A realização do Ser é a mais valiosa das conquistas. Se você deseja ajudar o mundo, esta é a melhor maneira de fazê-lo! Neste estado, o Ser vai revelar a você quais são Seus planos. Mas, para permitir ao Ser usá-lo desta maneira, você tem que se render a Ele, tem que se devotar a Ele e ter verdadeira obediência. Sendo bem sucedido nisso vai saber que você e Ele são um. Sabendo disso, estará consciente de que, sejam quais forem as tarefas que seu corpo realizar, é somente o Ser que as realiza. Tudo que for realizado neste estado é perfeito, excelente, pois o Ser não comete erros. Nem tampouco possui capacidade para julgar se as atividades são boas ou más. Entregue-se ao Ser com grande devoção e fique silencioso. É tudo que há para fazer. Havendo sucesso nisso, você vai reconhecer, de imediato, em seu interior, uma chama de energia que lhe trará muita força, permeando seu sistema nervoso com uma 'vontade' que, por seus próprios meios, não alcançaria!
By Papaji, no livro "Interviews", fundação Avadhuta

sexta-feira, 25 de junho de 2010

O Néctar das Palavras de Sri Ramakrishna (II)

 Sri Ramakrishna sobre o Conhecimento Perfeito:
 “Enquanto o homem pensar que Deus se encontra ‘alhures’, ele é ignorante. Porém, ele alcança Real Conhecimento quando sente que Deus está é ‘aqui’!”
Escute uma estória:
'Um homem desejava fumar. Dirigiu-se a casa vizinha para acender seu cigarro. Era tarde da noite e todos estavam dormindo. Depois de muito bater, alguém apareceu à porta. Ao ver o outro, perguntou: ‘Olá, o que está acontecendo?’ O outro lhe respondeu: ‘Não pode adivinhar? Você sabe quanto gosto de fumar. Vim aqui a fim de acender meu cigarro!’ Então, lhe respondeu o dono da casa: ‘Ah! ah! ah!... você é ótimo, vizinho. Deu-se ao trabalho de vir até aqui a estas horas, bater à porta, sem perceber que carrega uma vela acesa em sua mão!”
O que a pessoa tanto procura se acha muito próximo dela. Ainda assim, vagueia de um lugar a outro buscando!'
"A Verdade é uma, mas é designada por diversos nomes. Todos estão buscando a mesma Verdade, a diferença se deve ao clima, ao temperamento e às palavras. Em um lago há muitos atracadouros. Em um deles, os hindús pegam água em jarras e a chamam 'jal'. Em outro, os muçulmanos apanham água em bolsas de couro e a chamam 'pani'. Em um terceiro, os cristãos pegam a mesma coisa e a chamam 'água'. Suponha que alguém afirme que aquilo não se chama 'jal', mas 'pani', ou que não é 'pani' e sim 'água', ou que não é 'água' e sim 'jal'. Isso seria de fato ridículo! Porém, esta mesma questão se acha na raiz da divergência entre tantas seitas e alimenta seu desentendimento. Por isto, as pessoas se ferem e se matam umas às outras, derramando sangue em nome de religiões. Isso não faz sentido, todos se dirigem à mesma meta, e irão realizá-la se tiverem sinceridade e anelo em seu coração!"  

quinta-feira, 24 de junho de 2010

O Néctar das Palavras de Sri Ramakrishna

Sri Ramakrishna estava explicando o significado do sagrado 'OM' e também o real sentido do Conhecimento de Brahman: "O som OMMMmmm... é o divino poder Brahman. Os sábios da antiguidade praticavam austeridade afim de realizar este OM eterno. Mas, o que se pode obter por meramente ouvir este som? Ouve-se o bramido do oceano desde certa distância. Seguindo este bramido, pode-se chegar ao oceano. Enquanto houver este 'bramido', é certo que há um oceano. Seguindo a trilha de OM se alcança Brahman, de quem a palavra é um símbolo.
Pense no sol e em dez jarras cheias d´água. O sol se reflete em cada jarra. A princípio se vê o sol real e dez reflexos dele. Se nove das jarras são quebradas, vai sobrar apenas o sol real e um sol refletido. Cada uma das jarras representa uma alma. Seguindo a imagem refletida pode-se encontrar a imagem verdadeira. Através da alma individual pode-se chegar à Alma Suprema. O que permanece depois que a última jarra for quebrada não se pode descrever.
A alma individual a princípio permanece em um estado de ignorância, não tem consciência de Deus, apenas da multiplicidade. Ela vê muitas coisas ao seu redor. Mas, ao alcançar Conhecimento, fica consciente de que Deus reside em todos os seres. Suponha que alguém está com um espinho na sola do pé. Ele consegue um outro espinho para poder retirar o primeiro. Em outra palavras, ele remove o espinho da ignorância por meio do espinho do conhecimento. Porém, alcançando a Suprema Sabedoria, discarta ambos os espinhos, do conhecimento e da ignorância. Aquele que apenas ouviu falar do leite é 'ignorante'. Aquele que chegou a ver o leite possui 'conhecimento'. Mas, aquele que bebeu leite e se fortaleceu com ele, este possui verdadeiro Conhecimento."
Texto retirado de "Sri Sri Ramakrishna Kathamrita", de Mahendranath Gupta. Querendo conhecer mais, procure em www.vedanta.org.br

segunda-feira, 21 de junho de 2010

A Cidade da Memória Perdida (final)

Com o passar do tempo, um dia chegou ali um santo homem. De imediato reconheceu o rei de Smritinagar, que era dado como perdido, e se apressou a lhe dizer: “Por onde tem andado, Sua Majestade? Todo seu reino está em confusão esperando seu regresso!”
“O que quer dizer?”, replicou o rei caçador um tanto atônito com aquela novidade. “Mas... pensando melhor, tenho tido um sonho estranho todas as noites”, confessou. Quando relatou seu sonho, o santo homem compreendeu o que lhe havia sucedido. Logo divisou um plano para que o rei retomasse seu trono. “Deixe-me dar-lhe um conselho, meu filho, vou contar-lhe o que fazer para tornar seu sonho em realidade. Primeiro trate de se convencer de que é, de fato, um rei. Procure lembrar-se de sua condição de nobreza, de soberania, de poder e bonomia. Sinta-se novamente como sendo soberano, pense como tal, aja como tal, seja de novo um rei. Afirme a si mesmo, tanto quanto possa: ‘eu sou aquele rei perdido’, ‘eu sou aquele soberano’. Quando conseguir mande chamar-me, e então lhe direi o que fazer.” E assim dizendo se foi.
O rei ficou sozinho a cismar: “Isto é muito ridículo. Meramente afirmar que sou o rei não fará de mim um soberano!”. Porém, não tendo outra escolha, resolveu começar.
O tempo passou. Aquele que um dia duvidara agora possuía certeza. “Estou convencido de que sou aquele monarca esquecido de sua própria condição. Vou mandar chamar o santo homem para que me diga o que fazer a seguir.”
Ao chegar o eremita, para demonstrar sua fé e gratidão, o rei se prosternou e recebeu a benção do santo.
Agora que o rei havia recuperado a memória, não duvidando mais de sua majestade, o eremita lhe deu a seguinte indicação: “Vá agora e alugue um cavalo branco, todo arreado, juntamente com alguns homens armados para acompanhá-lo. Cavalgue, então, em direção ao reino vizinho de Smritinagar, e proclame-se o rei perdido.”
No dia seguinte, indo ao vilarejo, o rei procedeu como lhe fora indicado, alugando um cavalo branco, arreios e um contingente de soldados. Logo dirigiu-se ao reino vizinho e, quando cruzava a fronteira, viu que uma patrulha de soldados montados se aproximava. Com grande alarde e numa voz que soava sem temor, declarou: “Eu sou o rei perdido de Smritinagar!” E, para sua surpresa, todos desmontaram-se, inclinando-se diante dele.
À medida que adentrava os limites da cidade, os camponeses se amontoavam para vê-lo passar. “Eu sou o rei perdido de Smritinagar!”, ele declarava em toda parte, vendo que todos lhe davam boas vindas com grande alegria. Sua autoconfiança crescia. Quanto mais afirmava sua real natureza, mais alegria ele sentia, e, enquanto cavalgava, o charme de suas palavras também trabalhava em seu favor. Era o delírio!
Agora, as ruas e palacetes, o próprio cenário lhe pareciam familiares. Teve um forte sentido de já haver estado ali antes, e, quando as enormes muralhas brancas do palácio surgiram diante de si, sua memória se clareou completamente, e ele cavalgou destemidamente através dos velhos portões.
(Velho conto hindú de autoria desconhecida.)

domingo, 20 de junho de 2010

"Esteja Desperto", um Upanishad moderno

“Não temos que despertar a consciência, nós já somos esta Consciência. E este contínuo despertar é amoroso. Quando é amplo, quando não está fixo em alguma identidade estreita e artificial, algum anseio mesquinho, argumentação, irritação ou medo, a natureza deste despertar é incondicionalmente afetiva, carinhosa, sensível e compassiva. Todas as formas verdadeiras de misticismo são apenas portas para esta descoberta.
Sua vida é a vida do Amor. Se você tentar retirá-lo da vida, se tentar limitá-lo numa tentativa de satisfazer alguma obsessão emocional ou mental com segurança ou prazer, encontrar-se-á, em pouco tempo, a vagar através dos muitos reinos infernais da inveja, do medo, dos ciúmes, da possessividade, da frustração, dos vícios, da solidão e tanta coisa mais.
Como dar um fim a este inferno? Pare de tomar a sério as imagens mentais e estórias sobre você mesmo e outras pessoas; pare de ser complacente com elas como se fossem importantes, como se fossem confiáveis e úteis, pois o pensamento ego-centrado, qualquer deles, é uma espécie de insanidade. E, ao renunciar completamente a isto, a paz e a segurança que buscou em tantas formas transientes e limitadas, estarão em toda parte.

A palavra “iluminado” simplesmente se refere à vida sem passado e nem futuro, vida sem aquela ego-centrada fantasia, cuja totalidade é feita apenas de memória. Fantasia romântica, fantasia de riqueza e poder, fantasia política, fantasia sexual, fantasias de prestígio e segurança, etc., onde não há realidade, não há amor nem liberdade. Pare de indulgir neste tipo escapista de sonhar. Você é tudo que há, cada lampejo, cada barulho, cada aroma, sabor, sentimento, pensamento, ocasião e experiência, tudo que nasce, vive e morre é você. A idéia de uma identidade separada, com todos seus desejos conflitantes e competitividade, julgando e culpando a si mesmo e aos demais, nada mais disso faz sentido. (...) O mundo é absolutamente completo e sereno, e você se encontra emudecido com infinito amor e admiração. Palavras como bom e mau, bonito e feio, certo e errado, solidão, divisão, meu, teu, nós, eles, não significando mais qualquer coisa para você."
Um discípulo de Sri Nisargadatta

sexta-feira, 18 de junho de 2010

A Cidade da Memória Perdida

Vivia na antiga Índia, na cidade de Smritinagar, que significa a cidade da memória perdida, um rei sábio e justo. Um dia desejando sair à caça, preparou seu cavalo e saiu solitário para fora dos limites da cidade, atravessando a floresta real e seguindo, inadvertidamente, além dos limites de seu reino, adentrando uma terra desconhecida.

Enquanto cavalgava por densa mata, aconteceu de uma cobra atravessar a sua trilha, fazendo com que seu cavalo retrocedesse e empinasse, jogando-o para longe da sela. Ao cair, porém, bateu com a cabeça, ficando algum tempo desacordado. Quando se recobrou, olhando à volta, nada reconheceu, nem mesmo quem ele próprio era. Com a queda, havia entrado em amnésia.
Em sua confusão, o rei notou que estava vestido como caçador. “Talvez eu seja um guarda-caça nesta floresta”, pensou. Naquela noite, ergueu para si mesmo um rude abrigo, onde deu início a sua nova vida.
O tempo passou. O rei caçador fez para si uma boa casa. Durante o dia patrulhava a floresta. À tardinha, cozinhava seu jantar ao fogo, mas quando pegava no sono era perturbado por um estranho sonho. Sonhava que vivia em um grande palácio com muitos quartos e que estava cercado de cortesãos, príncipes e princesas, e uma rainha, todos dirigindo-se a ele como se fosse o rei. Porém, ao despertar, encontrava-se na condição de um guarda-caça.
O tempo continuou a passar. Certo dia um mercador, que vinha atravessando a floresta, parou para conversar. Enquanto falavam, o rei caçador relatou o sonho estranho. “Ah, vejo que deseja tornar-se um rei!”, comentou o mercador. “É um desejo comum a todos nós. Aceite meu conselho e torne-se primeiro um mercador, como eu. Compre, venda, troque, faça negócios – e logo estará rico. E onde quer que vá, poderá viver como se fosse rei.” Assim falando o mercador partiu.
“É um bom conselho”, pensou o rei caçador. E no dia seguinte foi até a vila comprar mercadoria para comerciar. Comprou, vendeu, mercadejou todo o dia, mas, ao final, verificou que estava arruinado. O rei compreendeu assim que não era feito para o comércio e, tristemente, regressou à floresta.
O tempo continuou a passar. Um dia, chegou um soldado àquelas paragens. Enquanto tomavam um chá, contou o rei sobre seu sonho. “Sim, senhor, vejo que deseja tornar-se rei”, disse o soldado. “Meu conselho é simples. Torne-se um soldado primeiro. Sirva bem ao exército e será promovido. Quando for general poderá ir à guerra e anexar um grande reino.” Assim falando, o soldado partiu.
“É um bom conselho”, pensou o rei caçador, e no dia seguinte foi ao vilarejo se alistar. Mas, quando o sargento encarregado o viu, sacudiu a cabeça dizendo: 'Tu és muito velho e gordo para servir ao exército'. O velho monarca baixou a cabeça então e retornou à floresta.
(a continuar)

sábado, 12 de junho de 2010

A Canção 'Eu Sou', de Sri Nisargadatta

"Mergulhe fundo no sentido 'Eu Sou' e você o encontrará!
...foque sua mente em 'Eu Sou', que é o puro e simples S E R. Dê o primeiro passo primeiro. Toda ventura vem de dentro. Volte-se para dentro. O 'Eu Sou' você conhece. Esteja com ele todo tempo que puder, até reverter a ele expontaneamente. Antes de qualquer começo, antes de qualquer fim... Eu Sou!
Mergulhe fundo em si mesmo e vai saber que é bem fácil e bem simples! Siga em direção do 'Eu Sou'!
Ao afirmar 'Eu Sou', não me refiro a uma entidade separada, com seu corpo e núcleo. Refiro-me à totalidade da Existência, o Oceano de consciência, o inteiro universo com tudo que é e possui consciência. 
Mas, as palavras mostram sua limitação. O real não pode ser descrito, apenas deve ser experimentado. 
Tudo é Um, não importa quanto discordemos. Tudo se realiza a fim de satisfazer a única fonte e meta de cada desejo, aquele que todos nós conhecemos por 'Eu Sou'. 
Tal como o sol se encontra refletido em bilhões de gotículas de orvalho, assim também o Eterno é repetido de modo infindável. Quando repito 'Eu Sou'...'Eu Sou', apenas afirmo e reafirmo um fato sempre presente. Não veja as palavras que podem cansar, veja a verdade por trás delas. Entre em contato com ela e conhecerá o significado completo das palavras e do silêncio - de ambos!"

Do livro "I Am That", de Sri Nisargadatta Maharaj

segunda-feira, 7 de junho de 2010

        "O Resplendente Ser"
Seu ser é o miraculoso Ser divino!
Quando se busca as coisas da mente inferior, fica-se sujeito ao mundo da lei.
Mas, quando se busca as coisas da mente superior, coisas divinas, espirituais e além da matéria, entra-se em um reino de milagres e graça!
Coisas miraculosas acontecerão quando você pensar na real natureza do Ser.
Você ficará surpreso ao verificar como o Ser se tornou uma força iluminadora dentro de você!
A natureza é vestimenta do Divino. Para além das leis mecânicas da natureza existem leis superiores, bem mais flexíveis; de lá são provenientes os milagres!
Quando você afirma "Eu Sou o ser Divino", vai perceber que o verdadeiro Ser principia a se manifestar.
"Toda verdade se acha em meu interior", isto é conhecimento: Eu sou a testemunha, o espectador!
Eu sou aquela efulgência Infinita sobre a qual todo o universo dança!
Seja a Testemunha. Tudo não passa de um jogo - todo universo é um jogo.
Assim, tudo está carregado de veracidade!
Do livro "Shafts of Light", by Swami Ashokananda, edt. por Kalpa Tree Press

A Jóia Suprema do Discernimento, segundo a "Bhagavad-Gitâ"

Para muitos este texto "Bhagavad-Gitâ", composto ao que se sabe há pelo menos 6.000 anos, é a pedra filosofal, por assim dizer, da psicologia e filosofia oriental. Tem sido, portanto, um seguro roteiro espiritual, em que Arjuna, um discípulo de natureza guerreira, houve de seu Instrutor, Sri Krishna, sobre a arte de sobrepujar as emoções pessoais diante de todas adversidades. Este diálogo acontece no campo de batalha de Kurukshetra, onde os exércitos oponentes se encontram dispostos, à espera do sinal para o início da guerra. Tudo isso, é claro, está em linguagem simbólica. No 2º capítulo, intitulado "A Yoga do Conhecimento", cujo verso 49 vamos examinar agora, Sri Krishna está recordando Arjuna de sua verdadeira natureza, e que, sendo assim, ele não pode desistir de seu papel, tem que enfrentar seu compromisso e lutar, porém, à partir de uma atitude ponderada e equilibrada, surgida da prática de Yoga. Cada um dos versículos, ao longo de 18 capítulos, é comentado nesta obra extensamente, seguramente, com clareza e síntese, de modo a que o leitor ocidental tire o máximo de proveito em seu estudo.

"A primeira coisa a fazer é comandar sua mente. Nós, raramente, manejamos nossa mente. Sabemos manejar ferramentas, mas a maior das ferramentas é nossa própria mente, e nunca a manejamos, deixamos que siga como lhe apraz. Assim, a Gitâ nos provê com outro ensinamento: maneje as ferramentas, mas também sua mente. Então algo grandioso acontecerá a você!
O próximo verso, verso 49, diz assim:
'O trabalho (motivado pelo desejo) é muito inferior aquele realizado com a mente estabelecida em buddhi-yoga. Oh, Herói, busca refúgio neste buddhi, a serenidade da mente; infelizes são os que atuam por resultados egoístas. ’

Estes versos, no coração do segundo capítulo da Gitâ, são magistrais, transmitindo uma profunda filosofia de vida à toda humanidade: ‘Oh, Arjuna, as ações realizadas por motivos pessoais são bem inferiores aquelas feitas do ponto de vista de buddhi-yoga; tome refúgio em buddhi, desenvolva este buddhi em si mesmo. Aqueles que correm atrás dos frutos do trabalho, são de mente estreita. (...)
Buddhi é um grande conceito em Vedanta, surgindo muitas vezes na Gitâ. Na verdade, trata-se da faculdade de raciocinar, de julgar e de discriminar. Representa a integração entre intelecto, vontade e emoção. Também controla, ou deveria controlar, todos os processos sensoriais e psíquicos no ser humano. Este sistema cerebral é o instrumento orgânico de buddhi, e foi feito para controlar e regular todo o organismo humano, menos as funções automáticas do corpo. Entendendo isso, e tentando praticar um pouco deste conhecimento, qualquer um pode desenvolver buddhi em si próprio, como instrumento de realização da meta evolutiva no estágio humano. Isto é fabricado com o sistema de energias psicofísicas em cada pessoa, purificamos esta energia e a refinamos; então, ela se torna buddhi.
Todo caráter superior está baseado no refinamento da energia psíquica. Energia psíquica bruta nos fornece um caráter grosseiro. Este é um tema importante: temos hoje grandes refinarias em muitos países, onde se toma óleo cru, se refina e se obtém ótimos produtos de petróleo, até mesmo essências finas. Refinar é essencial no que concerne ao óleo natural. Similarmente, a natureza concedeu ao homem uma surpreendente refinaria de experiências em seu interior. Tome uma experiência crua, rude, refine-a, e então ofereça estes sublimes produtos do caráter: amor, compaixão, eficiência no trabalho, paz, dedicação – à partir de uma forma primitiva de energia existente em si mesmo. É um tema no qual os jovens deveriam pensar e exercitar em suas vidas: como refinar minha própria experiência? Hoje em dia, no conceito e prática da educação em todo mundo, quase nada existe deste refinamento de experiências. A grosseria surgida em nossas vidas é espantosa! Grosseria nas relações humanas comuns, grosseria na política, grosseria em tudo; há educação, mas não refinamento; há energia psíquica, mas não refinada; esta grosseria é um sinal de que nós não usamos nosso sistema corpo-mente como refinaria de experiências. Todas estas idéias fazem parte do ensinamento que Sri Krishna nos oferece neste 2nd. capítulo. Onde não há buddhi, vivemos e trabalhamos à partir de um nível inferior da vida. Assim, nos tornamos pessoas motivadas a retirar os frutos para si mesmas. Não há espaço para ‘você’ ou para ‘nós’ em nossa mentalidade. Ao contrário, do nível de buddhi, toda ação ou pensamento irá procurar o bem-estar alheio, junto com o próprio: ‘Que posso fazer por você?’, será a atitude preponderante. Isto se chama buddhi-yoga ou yoga-buddhi, a única fonte de energia de qualidade superior. Este buddhi em você é o mais próximo do Atman ou Brahman, o único Ser divino em todos. Buddhi tem apenas que se voltar, e o Atman lá está, aquele que é Infinito.
Ao estudarmos o Katha Upanishad, nos defrontamos com o lindo exemplo da biga, ou carro de guerra. A vida humana não deixa de ser uma viagem em busca de realização. Há dois tipos de viagem: a externa, onde o corpo é o carro, ou biga, os órgãos dos sentidos são os cavalos, a mente são as rédeas e buddhi dirige o carro. Dentro do carro está o Ser, o Atman, o mestre condutor em ação. Mas, no contexto da mesma viagem, há outra viagem no sentido interior. Esta viagem interior é a que vale para o caráter e capacitação espiritual superior. (...) Nesta representação de guerra, quem conduz o carro é buddhi, que dirige toda movimentação dos sentidos ou cavalos atrelados; toda energia deste movimento está nos cavalos. Estes devem ser controlados pelas rédeas, que devem estar seguras por alguém e este alguém é buddhi. Estas rédeas representam manas, o sistema psíquico. Assim, buddhi é o condutor e diretor da viagem toda, ele estabelece o ritmo da empreitada. Ele, e não os cavalos, pode enxergar longe, ser prudente ao antever ou prever algo. O sistema sensorial não possui pré-visão ou prudência. O sistema psíquico tem um pouco de antevisão, mais que o sistema sensorial, Porém, quando se chega ao buddhi, você encontra elevada premonição e pré-visão. Isto se chama sabedoria. Buddhi é instrumento sem igual para conduzir a vida humana e para atingir o destino humano. Assim, Sri Krishna nos diz aqui: ‘tome refúgio em Buddhi’; não permita que sua viagem seja conduzida nem pelos cavalos, nem pelas rédeas ou pela força das rodas. Do mesmo modo, na situação humana, não deixe o corpo decidir sobre o propósito de sua vida. Nem tampouco o sistema sensorial, nem mesmo o psíquico, mas permita ao buddhi decidir sobre o curso da viagem de sua vida. (...)
Da obra "Universal Message of the Bhagavad Gitâ", by Swami Ranganathananda, edt. Advaita Ashrama, Índia

domingo, 6 de junho de 2010

Preceitos para praticar o Reto Discernimento

À medida que se avança no caminho do reto entendimento, vai-se compreendendo o valor inestimável de certos procedimentos. Alguns dos passos de Yoga, que já foram apontados na postagem "Meditação em Yoga", fazem parte da abordagem desenvolvida aqui sob o ângulo de 'Mergulhe Fundo'. Um destes preceitos, o de um reto discernimento, pode ser melhor entendido à partir de uma explicação dada por Sri Ramakrishna a um grupo de aspirantes, sobre o necessário cuidado ao se lidar ou associar a pessoas cuja mente não foi ainda colocada sob qualquer forma de disciplina. Diz ele assim:

"Neste mundo de Deus há uma variedade de coisas: homens, animais, árvores, plantas. Entre os animais, alguns são próximos, outros selvagens. Há animais ferozes, como os tigres. Algumas árvores dão fruto doce como néctar e outra frutos venenosos. O mesmo se dá com os seres humanos, há os bons e os máus, os decididos e os indecisos. Há os que se devotaram a Deus e os que se devotaram ao mundo.
Mas, mas todos eles podem ser classificados em quatro categorias: os sem liberdade, ou sem desejo por liberdade, que são apanhados na rede da mundanidade; os que buscam liberação, os que têm sucesso nessa busca e se tornam livres, e os sempre livres.

Os sempre livres, como o sábio Narada e outros, vivem no mundo para o bem da humanidade, e são como seus instrutores.

As almas sem liberdade são aquelas que permanecem obcecadas com as coisas do mundo, se esqueceram de Deus e jamais pensam nele.
Logo estão as que buscam liberação, algumas delas a conseguem e outras não. As que conseguem são almas livres, que venceram luxúria e cobiça – são os sadhus e mahatmas, em quem não há mais traço de mundanalidade. Suas mentes permanecem fixas aos pés de lótus de Deus.

Quando uma rede é lançada nas águas de um lago, há alguns peixes muito espertos que não se deixam apanhar nela. Estes são como as almas sempre livres. Contudo, a maioria realmente é apanhada pela rede. Alguns destes se esforçam para escapar, são como os que buscam libertar-se, porém nem todos eles conseguem. Alguns poucos escapam da rede com grande estardalhaço, ao que os pescadores comentam – ‘Lá se vai um dos grandes!’ A maioria deles, porém, não pode escapar e nem mesmo chegam a tentar; com a rede presa em suas bocas, se enterram na lama e lá permanecem quietos, pensando que estão a salvo e que não há mais nada a temer. Não se dão conta de que os pescadores, em seguida, vão arrastá-los para fora d´água e separá-los. Estas são as almas sem liberdade.
Estas almas ligadas se emaranharam à rede de luxúria e cobiça, e se acham presas dos pés à cabeça. Chegam mesmo a crer que naquele lodaçal vão encontrar felicidade e segurança. Não percebem que estão para encontrar a morte em estado de servidão. Quando uma destas almas ligadas está para morrer, sua esposa lhe diz: ‘ Você se vai, mas o que está deixando para mim?’ E seu apego ao que possui é tanto que, mesmo naquele momento, ao ver uma lamparina acesa, dirá: ‘Diminua aquela luz, está gastando muito óleo’.
Estas almas ligadas não pensam em Deus. Se dispõem de algum tempo de lazer, gastam-no em conversas ociosas ou atividades inúteis. Se você perguntar a uma delas o que está fazendo, responderá: ‘Não me posso sentar sossegado, assim estou erguendo esta cerca!’ Ou mesmo, quando a coisa aperta, talvez comecem um jogo de cartas!"

Do livro "Sri Sri Ramakrishna Kathamrita", 'O Néctar das Palavras de Sri Ramakrishna', cap. 1

quinta-feira, 3 de junho de 2010

As Leis da Vida Espiritual, segundo a filosofia Vedanta

1. O que, presentemente, tomamos como real, afeta toda nossa personalidade, pensamentos, emoções e ações. Todo nosso ser responde à esta realidade.


2. Nosso conceito de realidade depende de como consideramos a nós mesmos; ou seja, a concepção que o homem tem de Deus evolve com o desenvolvimento  desta consciência de si mesmo.


3. Despertar espiritual é a transformação da consciência da pessoa, o que significa a mudança de um centro inferior a um centro mais elevado de consciência.


4. Embora distinta dos imperativos morais, a aspiração espiritual deve ser sustentada por estes. A prática da concentração (meditação) se não for precedida e sucedida pela purificação da mente e sublimação dos instintos, poderá levar o aspirante a desviar-se.


5. Cada aspirante deve, primeiramente, compreender onde está e começar desde aí; porém, fazendo o melhor uso da proteção e amparo recebidos durante os primeiros anos de sua vida, deve ultrapassá-los e amparar-se em suas próprias pernas, retirando sua sustentação mais do Divino que de homens ou instituições. Esta é a lei do crescimento espiritual. Significa que um aspirante só poderá adiantar-se no caminho espiritual, se estiver preparado a abandonar os suportes que o auxiliaram durante o estágio inicial.


6. A realização do Absoluto- a Realidade transcendental, chega sempre através da realização do Divino Princípio imanente. A sagrada Personalidade (Ishta Devata) é uma manifestação deste divino Princípio.


7. Quanto mais se expande nossa consciência, mais presenciamos o Divino em todas as pessoas e mais espirituais nos tornamos.


By Swami Yatiswarananda, no livro "Meditation and Spiritual Life"

terça-feira, 1 de junho de 2010

Consciência e Centramento, segundo Osho

Primeiro é preciso entender o que significa ‘consciência’.

Você está andando na rua. Está consciente de muitas coisas – das lojas, das pessoas, do tráfego, de tudo. Está ciente de muitas coisas, menos de uma – de você mesmo! Você está passeando, consciente de muitas coisas, mas esquecido de si mesmo! Essa consciência de si, Gurdjieff chamou de ‘lembrança de si mesmo’. Ele dizia: ‘Constantemente, onde quer que você esteja, lembre-se de si mesmo!’
Não importa o que esteja fazendo, nunca deixe de fazer outra coisa interiormente: ficar consciente do que está fazendo. Você está comendo, está caminhando, está falando ou ouvindo, fique consciente de si mesmo. Quando estiver com raiva, fique consciente de que está com raiva. Essa lembrança constante de si mesmo cria uma energia sutil dentro de você, você começa a se cristalizar!
Na maior parte do tempo, você é apenas algo vazio. Nenhuma cristalização, nenhum centro de verdade – só liquidez, só uma combinação ao acaso de muitas coisas sem centro. A consciência é o que faz de você o comandante do navio, não quero dizer que possua o comando, mas que seja a presença, uma presença contínua. Sempre que estiver fazendo alguma coisa, ou não estiver fazendo nada, de uma coisa tem que estar consciente: que você é!
O simples sentimento de si mesmo ( de ser ), e de que este si mesmo é (real), cria um centro – um centro de calma, de silêncio, um centro de comando interior. Trata-se de um poder interior. (...)
Se começar a ficar consciente, você começará a sentir uma energia nova em você, um fogo, uma vida nova. E, devido a esse poder, a essa energia, aquilo que dominava você se dissipa.
Você tem ainda que lutar contra a raiva, contra a ganância, contra o sexo porque você é fraco. Portanto, na verdade, a ganância, a raiva, o sexo não são o problema, a fraqueza é o problema. Quando começar a ficar forte interiormente, com um sentimento de presença interior – de que você é – suas energias se cristalizam em um único ponto, e nasce um ‘Eu’. Veja, não nasce um ego, mas um ‘Eu’. O ego é um sentido falso do ‘Eu’. Mesmo sem ter um ‘Eu’ – um centro – você continua acreditando que você é um ‘eu’, que na verdade é o ego.
O ego é uma noção falsa de algo que ainda não existe. ‘Eu’ significa que existe um centro, mas esse centro só é criado por quem está continuamente alerta, consciente. (...) Tente ficar consciente o tempo todo e então começará a sentir que surge um centro dentro de você: as coisas começaram a se cristalizar, ocorre um centramento. Tudo passa a se relacionar com este centro.
Mas, atualmente, estamos sem este centro. Às vezes, nos sentimos centrados, quando somos obrigados a ficar conscientes. Se surgir uma situação de grande perigo, começamos a sentir um centro lá dentro, pois temos consciência de que há perigo. Se alguém o ameaça, não dá para ficar inconsciente, não dá para correr ao passado ou ao futuro, esse momento é tudo que há. Nesse instante, você não somente fica consciente da ameaça, como também de si mesmo. Nesse momento sutil, você começa a perceber o centro que há em você. É por isso que os jogos perigosos atraem as pessoas. Você está dirigindo um carro e começa a aumentar cada vez mais a velocidade, a coisa começa a ficar perigosa. Você não pode pensar, não pode imaginar, o presente se torna sólido. Nesse instante de perigo, quando a qualquer momento algo pode acontecer, fica-se repentinamente consciente de um centro dentro de si mesmo. O perigo fascina simplesmente porque, quando há perigo, você pode ficar centrado. (...) Quando a morte está próxima, a vida fica intensa e você fica centrado. Mas, se for apenas circunstancial esse centro desaparece logo que a situação terminar.

Por isso tem que ser mais interior, não fruto do momento. Tente ficar consciente diante das coisas mais comuns. Quando estiver sentado, por exemplo, tenha consciência do ato de sentar-se. Não só da cadeira, não só do ambiente em que está, da atmosfera que o cerca; mas do fato de estar sentado. Feche os olhos e sinta-se, mergulhe fundo e sinta-se!


Lin-chi fazia sua preleção matinal quando alguém perguntou: ‘Só me diga uma coisa – quem sou eu?’ Lin-chi saiu de onde estava e foi até o homem. Todos na sala ficaram em silêncio. Era uma situação incomum. Lin-chi ficou de frente para ele e o olhou nos olhos. O ar ficou pesado. O inquiridor começou a suar. Lin-chi então respondeu: ‘Não pergunte a mim. Mergulhe dentro de si mesmo e encontre quem está perguntando. Feche os olhos. Não pergunte ‘Quem sou eu?’ Entre dentro de você e descubra quem está perguntando, quem é o indagador interno. Esqueça-me. Encontre a fonte da pergunta. Mergulhe fundo em seu mundo interior.



E contam que o homem fechou os olhos, ficou em silêncio, e, de repente, se iluminou! Abriu os olhos, riu, tocou os pés de Lin-chi e disse: ‘Você respondeu! Tenho feito esta pergunta a todos e recebi muitas respostas, mas nada provou ser a resposta. Mas, você respondeu!’


By Osho no livro "Consciência", edt. Pensamento, SP

O Néctar das Palavras de Sri Ramakrishna

"Deus e Sua glória. Este universo é sua glória. As pessoas ao verem Sua glória, esquecem-se de tudo mais. Não querem a Deus cuja glória é o mundo. Todos querem desfrutar de ‘luxo e luxúria’, mas há muita miséria e preocupação nisso. Este mundo é como o torvelinho de um rio, se um bote entra ali não há esperança de resgate! Também pode ser comparado a um arbusto espinhoso; alguém com dificuldade se livra de um maço de espinhos, mas logo está emaranhado por outros. Uma vez dentro de um labirinto, vê-se quão difícil é sair dele. Ao viver no mundo fica-se flambado, como se fosse.’

‘Não é para qualquer pessoa ser um guru. Um enorme tronco flutua sobre a água e pode carregar animais consigo. Mas, um pedaço de madeira sem valor, se alguém se sentar nele vai afundar. Por conseguinte, em cada era, Deus se encarna como o Guru para ensinar à humanidade. Somente Satchidananda é o Guru!

"Maya não é mais que ‘luxo e luxúria’ (kamini kanchan). A pessoa alcança Yoga quando liberta a mente destes dois. O Ser Supremo é o ímã e o ser individual é uma agulha. O ser individual vivencia o estado de Yoga quando é atraído pelo Ser Supremo. Porém, o ímã não atrai a agulha se esta se acha coberta com barro. Só quando o barro for removido a agulha poderá ser atraída. O barro de ‘luxo e luxúria’ deve ser retirado!

"Duas situações provocam o riso de Deus. Ele ri quando dois irmãos, ao dividirem um pedaço de terra entre si, estendem uma corda de um lado ao outro, dizendo: ‘Este lado me pertence e o outro lado te pertence !’ Deus sorri e diz consigo mesmo: ‘Todo o universo pertence a Mim, e eles, por causa de um pequeno lote, declaram: Oh, este lado é meu e aquele é teu!’ Deus ri também quando o médico afirma à mãe chorosa, que vê seu filho entre a vida e a morte: ‘Não tenha medo, mãe, eu vou curar seu filho!’ O doutor não compreende que ninguém pode curar uma criança que Deus não deseja salvar!

"A verdade é que só Deus é real, a Eterna Substância, tudo mais é ilusório. Homens, universo, casa e filhos – todos estes são como a magia do mago. O mago golpeia sua varinha e diz: ‘Vem ilusão, vem confusão!’ Logo diz à audiência: ‘Levantem a tampa da vasilha e vejam os pássaros voarem para o céu!’ Mas, só o mago é real e sua magia irreal. O irreal existe durante um segundo e logo se desvanece.
Somente a água é real, por exemplo, suas borbulhas aparecem e desaparecem; se desvanecem na mesma água da qual surgiram. Deus é como um oceano e os seres viventes são como suas borbulhas. Nascem ali e ali morrem. Os filhos são como as poucas borbulhas que cercam a maior. Deus somente é real. Façam um esforço para cultivar amor por Ele, e encontrem um meio de alcançá-lo. Que vão ganhar afligindo-se?

"Existe em Deus tanto conhecimento quanto ignorância, tanto vidya quanto avidya. Vidyamaya conduz a Deus e avidyamaya afasta a pessoa de Deus. Conhecimento superior, devoção, compaixão e renúncia pertencem ao reino de vidya, com sua ajuda nos aproximamos de Deus. Mais um passo e se alcança a Deus, o Conhecimento de Brahman. Neste estado a pessoa sente e vê com clareza que foi Deus que se tornou tudo. Então, ela não tem nada a renunciar, e nada a aceitar. É impossível a ela sentir raiva por qualquer outro.

Do livro "Sri Sri Ramakrishna Kathamrita", por Mahendranath Gupta

OM Namah Shivaia - encontro Oriente e Ocidente



Meditação em Yoga: Em yoga Clássica, a yoga de Patanjali, ciência que demonstra a potencialidade possível ao homem, há oito passos a completar, envolvendo disciplinas tanto físicas qto. mentais. Na 1ª destas etapas, se acham disciplinas relativas à autoeducação, ou auto-controle, tais como: não violência (ahimsa), veracidade (satyagraha), continência (brahmacharya), etc. Na etapa seguinte, dita das 'observâncias', estão a prática de pureza, contentamento, esforço sobre si mesmo, estudo e consagração ao Ideal.

O 3° passo, ou 3ª pétala da Flor de Yoga, trata das posturas ou âsanas, ou seja, os modelos gestuais recomendados aos que aspiram algum domínio sobre seu corpo. A quarta etapa é dos 'pranayamas', isto é, as disciplinas necessárias ao controle da energia através da respiração. Pratyahara é a etapa em que se aprende a controlar os sentidos. Dhârana, a 6ª etapa, se ensina a concentração da atenção. O sétimo passo, denominado Dhyâna, se refere às tecnicas de introspecção ou de meditação, e o último degráu chama-se Samadhi, ou completa absorção no Ideal Espiritual.

Este é o caminho de Yoga, relevante símbolo atual do encontro entre Ocidente e Oriente.

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