sexta-feira, 9 de setembro de 2016

A Jóia Suprema do Discernimento, segundo a "Bhagavad-Gitâ"

Para muitos este texto "Bhagavad-Gitâ", composto ao que se sabe há pelo menos 6.000 anos, é a pedra filosofal, por assim dizer, da psicologia e filosofia oriental. Tem sido, portanto, um seguro roteiro espiritual, em que Arjuna, um discípulo de natureza guerreira, houve de seu Instrutor, Sri Krishna, sobre a arte de sobrepujar as emoções pessoais diante de todas adversidades. Este diálogo acontece no campo de batalha de Kurukshetra, onde os exércitos oponentes se encontram dispostos, à espera do sinal para o início da guerra. Tudo isso, é claro, está em linguagem simbólica. No 2º capítulo, intitulado "A Yoga do Conhecimento", cujo verso 49 vamos examinar agora, Sri Krishna está recordando Arjuna de sua verdadeira natureza, e que, sendo assim, ele não pode desistir de seu papel, tem que enfrentar seu compromisso e lutar, porém, à partir de uma atitude ponderada e equilibrada, surgida da prática de Yoga. Cada um dos versículos, ao longo de 18 capítulos, é comentado nesta obra extensamente, seguramente, com clareza e síntese, de modo a que o leitor ocidental tire o máximo de proveito em seu estudo.

"A primeira coisa a fazer é comandar sua mente. Nós, raramente, manejamos nossa mente. Sabemos manejar ferramentas, mas a maior das ferramentas é nossa própria mente, e nunca a manejamos, deixamos que siga como lhe apraz. Assim, a Gitâ nos provê com outro ensinamento: maneje as ferramentas, mas também sua mente. Então algo grandioso acontecerá a você!
O próximo verso, verso 49, diz assim:
'O trabalho (motivado pelo desejo) é muito inferior aquele realizado com a mente estabelecida em buddhi-yoga. Oh, Herói, busca refúgio neste buddhi, a serenidade da mente; infelizes são os que atuam por resultados egoístas. ’

Estes versos, no coração do segundo capítulo da Gitâ, são magistrais, transmitindo uma profunda filosofia de vida à toda humanidade: ‘Oh, Arjuna, as ações realizadas por motivos pessoais são bem inferiores aquelas feitas do ponto de vista de buddhi-yoga; tome refúgio em buddhi, desenvolva este buddhi em si mesmo. Aqueles que correm atrás dos frutos do trabalho, são de mente estreita. (...)
Buddhi é um grande conceito em Vedanta, surgindo muitas vezes na Gitâ. Na verdade, trata-se da faculdade de raciocinar, de julgar e de discriminar. Representa a integração entre intelecto, vontade e emoção. Também controla, ou deveria controlar, todos os processos sensoriais e psíquicos no ser humano. Este sistema cerebral é o instrumento orgânico de buddhi, e foi feito para controlar e regular todo o organismo humano, menos as funções automáticas do corpo. Entendendo isso, e tentando praticar um pouco deste conhecimento, qualquer um pode desenvolver buddhi em si próprio, como instrumento de realização da meta evolutiva no estágio humano. Isto é fabricado com o sistema de energias psicofísicas em cada pessoa, purificamos esta energia e a refinamos; então, ela se torna buddhi.
Todo caráter superior está baseado no refinamento da energia psíquica. Energia psíquica bruta nos fornece um caráter grosseiro. Este é um tema importante: temos hoje grandes refinarias em muitos países, onde se toma óleo cru, se refina e se obtém ótimos produtos de petróleo, até mesmo essências finas. Refinar é essencial no que concerne ao óleo natural. Similarmente, a natureza concedeu ao homem uma surpreendente refinaria de experiências em seu interior. Tome uma experiência crua, rude, refine-a, e então ofereça estes sublimes produtos do caráter: amor, compaixão, eficiência no trabalho, paz, dedicação – à partir de uma forma primitiva de energia existente em si mesmo. É um tema no qual os jovens deveriam pensar e exercitar em suas vidas: como refinar minha própria experiência? Hoje em dia, no conceito e prática da educação em todo mundo, quase nada existe deste refinamento de experiências. A grosseria surgida em nossas vidas é espantosa! Grosseria nas relações humanas comuns, grosseria na política, grosseria em tudo; há educação, mas não refinamento; há energia psíquica, mas não refinada; esta grosseria é um sinal de que nós não usamos nosso sistema corpo-mente como refinaria de experiências. Todas estas idéias fazem parte do ensinamento que Sri Krishna nos oferece neste 2nd. capítulo. Onde não há buddhi, vivemos e trabalhamos à partir de um nível inferior da vida. Assim, nos tornamos pessoas motivadas a retirar os frutos para si mesmas. Não há espaço para ‘você’ ou para ‘nós’ em nossa mentalidade. Ao contrário, do nível de buddhi, toda ação ou pensamento irá procurar o bem-estar alheio, junto com o próprio: ‘Que posso fazer por você?’, será a atitude preponderante. Isto se chama buddhi-yoga ou yoga-buddhi, a única fonte de energia de qualidade superior. Este buddhi em você é o mais próximo do Atman ou Brahman, o único Ser divino em todos. Buddhi tem apenas que se voltar, e o Atman lá está, aquele que é Infinito.
Ao estudarmos o Katha Upanishad, nos defrontamos com o lindo exemplo da biga, ou carro de guerra. A vida humana não deixa de ser uma viagem em busca de realização. Há dois tipos de viagem: a externa, onde o corpo é o carro, ou biga, os órgãos dos sentidos são os cavalos, a mente são as rédeas e buddhi dirige o carro. Dentro do carro está o Ser, o Atman, o mestre condutor em ação. Mas, no contexto da mesma viagem, há outra viagem no sentido interior. Esta viagem interior é a que vale para o caráter e capacitação espiritual superior. (...) Nesta representação de guerra, quem conduz o carro é buddhi, que dirige toda movimentação dos sentidos ou cavalos atrelados; toda energia deste movimento está nos cavalos. Estes devem ser controlados pelas rédeas, que devem estar seguras por alguém e este alguém é buddhi. Estas rédeas representam manas, o sistema psíquico. Assim, buddhi é o condutor e diretor da viagem toda, ele estabelece o ritmo da empreitada. Ele, e não os cavalos, pode enxergar longe, ser prudente ao antever ou prever algo. O sistema sensorial não possui pré-visão ou prudência. O sistema psíquico tem um pouco de antevisão, mais que o sistema sensorial, Porém, quando se chega ao buddhi, você encontra elevada premonição e pré-visão. Isto se chama sabedoria. Buddhi é instrumento sem igual para conduzir a vida humana e para atingir o destino humano. Assim, Sri Krishna nos diz aqui: ‘tome refúgio em Buddhi’; não permita que sua viagem seja conduzida nem pelos cavalos, nem pelas rédeas ou pela força das rodas. Do mesmo modo, na situação humana, não deixe o corpo decidir sobre o propósito de sua vida. Nem tampouco o sistema sensorial, nem mesmo o psíquico, mas permita ao buddhi decidir sobre o curso da viagem de sua vida. (...)
Da obra "Universal Message of the Bhagavad Gitâ", by Swami Ranganathananda, edt. Advaita Ashrama, Índia

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OM Namah Shivaia - encontro Oriente e Ocidente



Meditação em Yoga: Em yoga Clássica, a yoga de Patanjali, ciência que demonstra a potencialidade possível ao homem, há oito passos a completar, envolvendo disciplinas tanto físicas qto. mentais. Na 1ª destas etapas, se acham disciplinas relativas à autoeducação, ou auto-controle, tais como: não violência (ahimsa), veracidade (satyagraha), continência (brahmacharya), etc. Na etapa seguinte, dita das 'observâncias', estão a prática de pureza, contentamento, esforço sobre si mesmo, estudo e consagração ao Ideal.

O 3° passo, ou 3ª pétala da Flor de Yoga, trata das posturas ou âsanas, ou seja, os modelos gestuais recomendados aos que aspiram algum domínio sobre seu corpo. A quarta etapa é dos 'pranayamas', isto é, as disciplinas necessárias ao controle da energia através da respiração. Pratyahara é a etapa em que se aprende a controlar os sentidos. Dhârana, a 6ª etapa, se ensina a concentração da atenção. O sétimo passo, denominado Dhyâna, se refere às tecnicas de introspecção ou de meditação, e o último degráu chama-se Samadhi, ou completa absorção no Ideal Espiritual.

Este é o caminho de Yoga, relevante símbolo atual do encontro entre Ocidente e Oriente.

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