Um Único Pensamento ...
"Diante
do mar... Tarde nublada um tanto fria. Leve bruma, enquanto gaivotas,
mergulhões, andorinhas-do-mar e outros pássaros seguem voando em direção ao
sul. Já passaram muitos à medida que caminhava pela praia.
O
único pensamento deles é voar...
O
único pensamento dos peixes é nadar...
O
único pensamento do mar é oferecer...
O
único pensamento das nuvens é passar...
Em
tudo parece haver um único pensamento. Qual é nosso único pensamento? Aquele
que é unicamente nosso, que resume tudo, que expressa tudo, mesmo que não
manifesto em palavras? Parece-me que saí de casa hoje e vim parar aqui apenas
para poder ouvi-lo, discerni-lo, compreendê-lo e assimilá-lo!
O
“pensamento único” que é expresso pelo incessante bramido das ondas, pela linha
suave do horizonte, pela tonalidade cinza-azulada do céu, pela sensação de
finito e infinito!
Algumas
gaivotas voam próximo da superfície e das ondas, em formação militar. Um bando
de andorinhas, subitamente surge, como de dentro d’água. Que estão querendo me
comunicar?
As
impressões da cidade parecem haver passado. Não me queriam deixar!
É
preciso compreender este Pensamento que existe através de todas as coisas. É
necessário sintonização e auto-entrega... Que mensagem vim ouvir aqui, esta
tarde, diante do mar?
Ai...a
linguagem do mar é intraduzível porque não é pessoal, nem dirigida a alguém,
nem limitada por expressões formais e palavras. A linguagem do mar é mais para
a alma que para a mente; mais para o coração que para a alma!
O
mar repete seu idioma incompreensível, suas palavras repletas de ondas e
conchinhas, o eco que ressoa há séculos por toda parte. É apenas um soar
incessante, uma repetição continuada como a pulsação de imensa existência.
Parece vir de um poder que é auto-controlado e sustentador de inumeráveis
vidas. Ah, o bramido incessante da existência, da alma aprisionada e livre do
mar!
É a oração do mar que escrevo, a oração do
silêncio, nossa própria oração e único pensamento: o OM de nossa própria
existência!
Tudo
se vai... tudo passa...tudo é impermanente; tudo que há parece existir por
algum tempo, mas...somente para amadurecer, para superar-se, transformando-se
em nova experiência. Carregamos um “sentido pessoal” conosco, na esperança de
que seja duradouro, e seguimos resistindo às transformações da vida e, por
isso, sofremos.
Lá
seguem as andorinhas rente às águas. Seu vôo parece sua própria morada, seu
descanso parece ser a perfeição de voar... sem perder energia, aproveitando o
que há! Não há sobras, não há faltas, tudo está pleno e completo em seu esquema
de vida. Parece que também nós devemos encontrar nosso próprio caminho para
esta auto-suficiência, esta “confiança cósmica”, este modo de voar sem medo,
sem expectativa, sem anseios, apenas... confiança para prosseguir sempre,
entregues ao poder sustentador de tudo!
Daqui
observo o mar, os seres do ar, ondas, vastas águas...liberdade! Penso naqueles
que ficaram no “ontem” - atarefados, envolvidos em seus problemas e convencidos
de seus “dramas”! Há uma tênue linha que separa o finito do Infinito, o Ser do
não-ser, e esta linha invisível passa dentro do meu coração! As ondas agora
parecem mais próximas, ou fui eu mesmo que me aproximei delas? Será que esta
mesma linha também não passa no coração de todos? Não será esta a “linha da
Unidade”? Não será esta a luz da Sabedoria e do Conhecimento?
Diante
de mim...o silêncio indomável do oceano. Atras, pequena estrada ligando duas
localidades, e por onde o movimento do homem parece não cessar. Que contrastes!
Para onde irão estes pássaros, entre a estrada humana e a distante linha do
horizonte, no coração do Silêncio?
Fui
caminhar mais um pouco após breve lanche. Penso que acabei por traduzir a
mensagem...Ái, querido amigo, mar, amado guru:
os pássaros migrando são como se todos meus pensamentos seguissem uma só
direção, a mente migrando em direção a Deus. Seu vôo sai de dentro de mim e
segue para Ele, que é minha consciência. Tudo que vejo sou eu mesmo!
O
mar não está sujeito a tempo e espaço. O Infinito não tem limitações. Tempo e
espaço são para os sujeitos finitos. O mar vive no Eterno Presente. Está em
toda parte, jamais se modificando porque não há nada a aperfeiçoar. Assim, ele
é sempre Ele mesmo. Ele é sempre o presente, o Eu Sou! Tempo e espaço contém
modificações. Mas, o mar, é o infinito onde não há modificações, nem “tempo”.
Tempo é a sucessão de modificações que nossa mente aceita. O mar é o Eterno
AUM, símbolo do eterno Brahman, que tudo contém e que nada pode afetar.
Autoria "Blog Mergulhe Fundo"