À medida que se avança no caminho do reto entendimento, vai-se compreendendo o valor inestimável de certos procedimentos. Alguns dos passos de Yoga, que já foram apontados na postagem "Meditação em Yoga", fazem parte da abordagem desenvolvida aqui sob o ângulo de 'Mergulhe Fundo'. Um destes preceitos, o de um reto discernimento, pode ser melhor entendido à partir de uma explicação dada por Sri Ramakrishna a um grupo de aspirantes, sobre o necessário cuidado ao se lidar ou associar a pessoas cuja mente não foi ainda colocada sob qualquer forma de disciplina. Diz ele assim:
"Neste mundo de Deus há uma variedade de coisas: homens, animais, árvores, plantas. Entre os animais, alguns são próximos, outros selvagens. Há animais ferozes, como os tigres. Algumas árvores dão fruto doce como néctar e outra frutos venenosos. O mesmo se dá com os seres humanos, há os bons e os máus, os decididos e os indecisos. Há os que se devotaram a Deus e os que se devotaram ao mundo.
Mas, mas todos eles podem ser classificados em quatro categorias: os sem liberdade, ou sem desejo por liberdade, que são apanhados na rede da mundanidade; os que buscam liberação, os que têm sucesso nessa busca e se tornam livres, e os sempre livres.
Os sempre livres, como o sábio Narada e outros, vivem no mundo para o bem da humanidade, e são como seus instrutores.
As almas sem liberdade são aquelas que permanecem obcecadas com as coisas do mundo, se esqueceram de Deus e jamais pensam nele.
Logo estão as que buscam liberação, algumas delas a conseguem e outras não. As que conseguem são almas livres, que venceram luxúria e cobiça – são os sadhus e mahatmas, em quem não há mais traço de mundanalidade. Suas mentes permanecem fixas aos pés de lótus de Deus.
Quando uma rede é lançada nas águas de um lago, há alguns peixes muito espertos que não se deixam apanhar nela. Estes são como as almas sempre livres. Contudo, a maioria realmente é apanhada pela rede. Alguns destes se esforçam para escapar, são como os que buscam libertar-se, porém nem todos eles conseguem. Alguns poucos escapam da rede com grande estardalhaço, ao que os pescadores comentam – ‘Lá se vai um dos grandes!’ A maioria deles, porém, não pode escapar e nem mesmo chegam a tentar; com a rede presa em suas bocas, se enterram na lama e lá permanecem quietos, pensando que estão a salvo e que não há mais nada a temer. Não se dão conta de que os pescadores, em seguida, vão arrastá-los para fora d´água e separá-los. Estas são as almas sem liberdade.
Estas almas ligadas se emaranharam à rede de luxúria e cobiça, e se acham presas dos pés à cabeça. Chegam mesmo a crer que naquele lodaçal vão encontrar felicidade e segurança. Não percebem que estão para encontrar a morte em estado de servidão. Quando uma destas almas ligadas está para morrer, sua esposa lhe diz: ‘ Você se vai, mas o que está deixando para mim?’ E seu apego ao que possui é tanto que, mesmo naquele momento, ao ver uma lamparina acesa, dirá: ‘Diminua aquela luz, está gastando muito óleo’.
Estas almas ligadas não pensam em Deus. Se dispõem de algum tempo de lazer, gastam-no em conversas ociosas ou atividades inúteis. Se você perguntar a uma delas o que está fazendo, responderá: ‘Não me posso sentar sossegado, assim estou erguendo esta cerca!’ Ou mesmo, quando a coisa aperta, talvez comecem um jogo de cartas!"
Do livro "Sri Sri Ramakrishna Kathamrita", 'O Néctar das Palavras de Sri Ramakrishna', cap. 1
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