Tenho hoje para comigo uma certeza: é preciso cultivar uma boa reserva de bom humor para se viver. Muitas situações contrárias são resolvidas apenas com ‘bom humor’. Não com calculismos, não com velhos conceitos, menos ainda com ‘mau humor’! Sem uma boa dose de ‘bom humor’ é como se os acontecimentos ficassem maiores do que são e nossa própria perspectiva fosse diminuindo... diminuindo...!
Não se trata, porém, de cultivar o gosto por anedotas, que têm seu valor, nem de ficar deixando correr o riso fácil. Não, nada disso! Temos de aprender a encontrar e compreender o natural lado humorístico da vida, retirando daí a munição necessária para o dia a dia. Se não, vejamos - a vida em si mesma é muito engraçada: pessoas que se querem bem, vivendo separadas, enquanto inimigos e adversários vivem enlaçados! Quando muito desejamos que algo aconteça, acontece exatamente o contrário. Você tem algo superior a oferecer, parece que lhe voltam as costas, mas se tem algo apenas banal... sua porta fica congestionada! Ah, que magníficas coisas desproporcionais! Sim, a vida é realmente muito cômica!
Eu, por meu lado, havendo penado bastante até entender, tenho visto que não adianta adotar uma postura muito rígida com nada, tudo é passageiro e tão fugaz... A graça natural das coisas, o lado cômico, ocasional e fresco, está embutido em qualquer situação, esperando que você o surpreenda. Os homens realmente sábios, não nos esqueçamos, são cheios deste ‘bom humor’; de onde o retiraram?
Há em uma cidade litorânea, em sua única rua comercial, um rosto enorme de um sábio, um boddhisattva, à entrada de uma loja de presentes. É uma face esculpida em pedra e que mantém um sorriso afável e impessoal, parecendo confirmar ou concordar com tudo que se passa a sua volta. Noutro dia sentei-me diante desse rosto ‘que não vê você’ e procurei captar seu ensinamento: ao lado, em um bistrô, pessoas se divertiam ouvindo música; na loja, outras entravam e saiam, crianças choravam já cansadas de tanto passear, e por trás, em uma pequena igreja, devotos cantavam acompanhando a missa vespertina. Olhei aquele rosto e seu sorriso permanecia o mesmo; fiz uma observação a respeito da confusão ao seu redor, e o sorriso continuou igual. Indaguei-lhe, então, sobre a provisoriedade das coisas da vida e o sorriso se tornou mais sereno ainda. Senti que minha idéia básica estava confirmada: tudo está bem em toda parte!
By Sri Ram
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