“Todos os problemas terminam quando o ego desaparece. Enquanto um traço da ego consciência permanecer, a pessoa estará vendo diferenças. Ninguém sabe o que restará após o desaparecimento do ego, pois não se pode expressar isso em palavras. Aquilo que é, apenas, permanece!
Satchidananda é o oceano. O pote do ‘eu’ está imerso nele. Enquanto o pote existir, a água parecerá dividida em duas partes: uma parte dentro do pote e a outra parte fora. Mas, quando o pote for quebrado restará apenas uma extensão de água. Nem mesmo isto pode ser dito, quem o diria?”
É claro que se nos perguntassem o que de melhor encontramos em alguém, pedindo que apontássemos suas qualidades, nossa reação seria a de – obviamente- indicar coisas reconhecidas por nossas mentes, talvez comportamentos padronizados. Há, porém, muitos destes ditos padrões, que se tornaram estereotipados, ou seja, o que hoje se chama de ‘figurinha carimbada’! Podemos ainda, admirar muitas qualidades que talvez sejam apenas temporárias, ou mesmo, fruto de nossa imaginação. Imaginamos que alguém seja, por exemplo, um modelo ideal, segundo conceitos modernos. Mas, trata-se somente de padrões de pensamento aceitos em certas épocas. Aprendemos que ser pacientes, esperançosos, respeitosos, bons filhos e bons esposos (as), são qualidades boas e necessárias, indicando que somos ‘confiáveis’! Tudo que presenciamos, conhecendo ou não, desejamos medir, ou aferir, com a régua de nossa mente. Alguém que seja um pouco fora de padrão, ou de natureza diferente, que manifeste gosto por coisas diversas das que gostamos, chamamos logo de ‘excêntrico’, de ‘fenômeno’, de ‘santo’ ou de ‘anti-social’!
Bem, quando surge uma figura extraordinária em campos convencionais de conhecimento, isto é aplicável. Mas, quando se trata de campo religioso ou místico, como Mahatma Gandhi, Madre Tereza de Calcutá ou Sai Baba, não esquecendo o nosso Chico Xavier, nosso vocabulário se torna insipiente, ínfimo, sem profundidade. Quando muito, podemos admitir: ‘Oh, fulano é uma pessoa fantástica!’, ou como se diz hoje – ‘Um figuraço!’, ou, ainda poderíamos arriscar - ‘é um santo!’ Porém, acho que não saberíamos bem do que estaríamos falando.
Aqui temos um personagem, por assim dizer, que os padrões ocidentais de objetividade, de competitividade, de imediatismos e de aparentar ser, não poder nem medir, nem aferir, nem associar.
Vamos, portanto, deixar de lado todas nossas boas intenções de classificar, e deixar nossos modelos, nossos conceitos e valores antigos, por melhores que tenham sido!
Pois, este homem vem, se é possível admitir, de algum Admirável Mundo Novo! Sim, ele não vem de nosso mundo com certeza; ele esteve aqui, mas não pertence a este mundo. Não sei se há nomes para isso, prefiro não utiliza-los. Prefiro referir-me a algumas passagens de sua vida, sobre as quais eu li, algumas fotografias por assim dizer, de momentos que me são ainda mui queridos.
Ele não gostava, como já disse, de ser chamado de ‘guru’; nem de estar com pessoas de mentalidade mundana e nem podia reter em sua mão qualquer objeto de metal, moedas, em particular! Mas, gostava de estar reunido com pessoas puras e com possibilidades de despertar espiritualmente. Gostava também de contar sobre a Sabedoria de Deus, a quem chamava “Mãe Divina”, de desvendar os mistérios do Espírito, para quem estivesse disposto a conhece-los, e era capaz de falar horas a fio, dependendo da qualidade da audiência. Gostava de comida simples, mas bem preparada; gostava de sorvetes, entrava em êxtase com facilidade quando se falava no Nome de Deus, ou, então, preferia cantar ou dançar, a dança dos místicos, aqueles que entram em êxtase bailando, muitas vezes, solitariamente, tarde da noite!
Ele era tão inadvertido de sua pessoa humana que, certa vez, estando nos jardins do templo coletando flores, alguém se aproximou e o tomou pelo jardineiro, perguntando-lhe: “Rapaz, poderia me dizer onde se encontra Sri Ramakrishna?”, ao que ele respondeu: “Olhe, senhor, parece que há alguém aqui com este nome, mas não foi visto hoje ainda!" (a continuar)
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