sexta-feira, 29 de outubro de 2010

A Maravilha que é Deus!

Dos muitos caminhos que conduzem a Deus, o do maravilhoso deveria, certamente, vir em primeiro lugar. A cadeia altaneira de montanhas, o glorioso sol poente, o vasto oceano, as florestas e férteis planícies, tudo isso pode lançar a mente ao estado do maravilhoso. Ao observarmos a prodigiosa natureza, nos perguntamos:- Quem teria feito este mundo e dirigido todos os seus movimentos? A resposta interior nos diz que deve haver uma Inteligência Infinita por detrás deste mundo, pois compreendemos que tudo se comporta de acordo com certas leis, princípios e desígnios.

A emoção do maravilhoso pode estimular nossa busca por Deus. Um cientista que procura resolver os mistérios da natureza está em vantagem se tiver o coração humilde e receptivo ao maravilhoso de Deus, porque a natureza revela mais rapidamente seus segredos aqueles que, por amor a Deus, aplacaram seu ego humano. Pense na humildade de Einstein, quem, por meio da pesquisa científica, ficou convencido de uma divina Inteligência. Similarmente, Isaac Newton que traçou um paralelo entre o conhecimento intelectual e a vastidão do oceano, declarando que “havia tido o privilégio de juntar alguns seixinhos na praia”. Tais pensamentos nos deveriam convencer de que, quanto mais afetuosamente tratarmos com a natureza, a maravilhosa manufatura de Deus, mais nos aproximamos do Infinito. A pequenez do ego humano diminui em proporção direta. Este se encontra confinado aos limites deste universo, mas, a grande Inteligência que não é vista, por detrás das coisas visíveis e invisíveis, está criando formas magníficas continuamente.
As mais conhecidas escrituras enfatizam a importância espiritual da utilização, com propósitos meditativos, dos assombros de Deus. Sri Ramakrishna contava a anedota de um santo que vivia na Índia, em pequena cabana às margens de um rio. Depois de permanecer por todo o dia no interior da choça, fazia, diariamente ao anoitecer, o ritual de sair e, unindo as mãos, erguer os olhos com reverência para o esplendor do céu ao entardecer, repetindo: “Oh! Quão maravilhoso Tu és!” Em profunda meditação, costumava ficar imóvel, absorvendo aquela quietude e beleza por um longo período.
Procurando a Deus através do prodigioso, o buscador é dirigido ao aspecto impessoal de Deus, e, em meditação, tenta entrar em contato com a Inteligência divina, aquela pura mente impessoal, que governa o tempo e o espaço, e todos os fenômenos da natureza. Este tipo de contemplação é o que as escrituras devocionais da Índia denominam “shanta”, ou, uma pacífica relação com Deus.
Estudos biológicos e anatômicos comprovaram a maravilha que é o corpo humano. Podemos pensar em Deus como o supremo Artista que criou inumeráveis formas humanas, nenhuma das quais é uma duplicata. De forma presunçosa podemos ver nossas capacidades criativas, porém a habilidade humana jamais poderá produzir sequer um encantador colibri. E, tanto quanto se sabe, Deus criou 157 variedades desta espécie.
O inexaurível Infinito está, cem cessar, suscitando criação e dissolução. Ambos, vida e morte, representam um drama cósmico, pois “modificação” é uma lei da matéria. Somente nosso verdadeiro Ser, que é Deus, é imutável e eterno. E esta é a maior maravilha de Deus!
Deus criou com total desapego. Ao nos desenvolvermos espiritualmente, começamos a partilhar deste divino desapego, que se contrapõe ao apego humano. Deus projetou este universo, e pode, no espaço de um batimento cardíaco, fazer com que desapareça.
Maior evidência dos prodígios de Deus é a mente humana, que não passa de pálido reflexo da glória cósmica.
Toda mente humana pode ascender a alturas sublimes, desde que esteja bem orientada; é capaz de tocar as fronteiras de tempo, espaço e causalidade; pode imitar a paz majestática, o poder e a divina compaixão de Jesus Cristo, Buddha ou Sri Krishna.
Algo que também nos deve maravilhar é que, de toda criação, só os seres humanos são abençoados com o potencial sublime para, de modo pessoal, experimentar a realidade divina. Mesmo os deuses, declaram os Upanishads, não têm este potencial.
Sri Krishna relata que, de todas as maravilhas divinas, descritas no capítulo X da Bhagavad-Gitâ, a maior é Deus tornar-se um ser humano individual. Quando, finalmente, alcançarmos o auto-conhecimento, haveremos de compreender que tudo aquilo que se constituiu em fonte de beleza para nós, era, de fato, Deus em manifestação.
Quando pudermos levantar os véus obscurecedores de Maya e dizer: -“Eu sou Ele!”, só então teremos escapado de nosso casulo de ignorância. Para nós, a “Divina Comédia” terá terminado, por intermédio da contemplação do sublime esplendor que é Deus.
By Swami Shraddhananda no livro "Seeing God Everywhere", Vedanta Press

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Aprendendo a estar só...por Thomas Merton

Para quem não sabe, Thomas Merton foi monge trapista americano, falecido na Ásia em 1968. Embora sua tradição religiosa fosse inteiramente ocidental, estudou e se aprofundou em filosofias orientais (hinduísmo, zen e budismo), tornando assim mais universal ainda o seu ponto de vista. Segundo ele, a vida contemplativa não era uma vida isolada e solidão não era sair a viver nos ermos...

"Solidão física, silêncio exterior e verdadeiro recolhimento são necessários a todo aquele que deseja levar vida contemplativa; porém, como tudo mais, são apenas meios para se chegar a um fim, e, se não compreendermos o fim, teremos usado erradamente os meios.

Não vamos ao ‘deserto’ com o intuito de fugir dos demais, e sim, para aprender como encontra-los! Não nos separamos das pessoas com a finalidade de não nos interessarmos mais por elas, mas para encontrar o melhor modo de lhes fazer bem. Mas, esse é apenas um fim secundário. O fim primordial e que inclui aos demais, é amar a Deus! (...)
Só há uma fuga verdadeira do mundo e não se trata de fugir do conflito e do sofrimento, mas sim da desunião e da separatividade, para dentro da paz e da união pelo amor aos demais.
Qual é o ‘mundo’ pelo qual Jesus não quis orar e do qual disse que seus discípulos estavam nele, mas a ele não pertenciam? É a cidade irrequieta dos que vivem para si e estão, por isso mesmo, divididos uns contra os outros numa luta sem fim... É a cidade dos que lutam para possuir coisas limitadas e pelo monopólio de bens e prazeres que não podem ser compartilhados.
Mas, se tentamos sair deste mundo, abandonando apenas fisicamente a cidade para nos escondermos em algum lugar, levamos conosco a ‘cidade’; no entanto, podemos estar inteiramente alheios ao mundo mesmo ‘estando nele’, se consentimos que Deus nos liberte de nosso egoísmo e se vivemos unicamente para o amor. (...) Contudo, a solidão mais autêntica não é algo externo a nós, não é a ausência de pessoas ou ruídos: é como um abismo que se abre no centro de nossa própria alma! E esse abismo da quietude interior é uma necessidade que jamais será satisfeita por alguma coisa criada. O único meio de encontrar esta solitude é pela fome e sede, pela dor e pela pobreza, e pelo desejo! E quem achou a solitude está vazio, como se tivesse sido esvaziado pela morte!
Quem a encontrou, adiantou-se para além de todos horizontes. Não há mais nenhuma direção em que possa viajar. Acha-se num país cujo centro está em toda parte e cuja circunferência não está em nenhum lugar. Não pode ser este país encontrado por meio de viagens e sim pelo fato de nos mantermos quietos e sossegados!"

Extratos do livro "Novas Sementes de Contemplação", Edt. Fisus, 1999.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A Realidade por trás de todas as facticidades...

Tenho hoje para comigo uma certeza: é preciso cultivar uma boa reserva de bom humor para se viver. Muitas situações contrárias são resolvidas apenas com ‘bom humor’. Não com calculismos, não com velhos conceitos, menos ainda com ‘mau humor’! Sem uma boa dose de ‘bom humor’ é como se os acontecimentos ficassem maiores do que são e nossa própria perspectiva fosse diminuindo... diminuindo...!

Não se trata, porém, de cultivar o gosto por anedotas, que têm seu valor, nem de ficar deixando correr o riso fácil. Não, nada disso! Temos de aprender a encontrar e compreender o natural lado humorístico da vida, retirando daí a munição necessária para o dia a dia. A Realidade por trás de todas as facticidades, sendo plena e perfeita, está sempre cheia de quadros cômicos, que asseguram ao bom observador, a reserva humorística necessária. Se não, vejamos - a vida em si mesma é muito engraçada: pessoas que se querem bem, vivendo separadas, enquanto inimigos e adversários vivem enlaçados! Quando muito desejamos que algo aconteça, acontece exatamente ao contrário. Você tem algo superior a oferecer, parece que lhe voltam as costas, mas se tem algo apenas banal... sua porta fica congestionada! Ah, que magníficas coisas desproporcionais! Sim, a vida é realmente muito cômica!
Por meu lado, havendo levado certo tempo para entender, tenho visto que não adianta adotar uma postura muito rígida com nada, tudo é passageiro e tão fugaz... A graça natural das coisas, o lado cômico, ocasional e fresco, está embutido em qualquer situação, esperando que você o surpreenda. Os homens realmente sábios, não nos esqueçamos, são cheios deste ‘bom humor’; de onde o retiraram?
Há em uma vila litorânea, em sua única rua comercial, um rosto enorme de um sábio, um boddhisattva, à entrada de uma loja de presentes. É uma face esculpida em pedra e que mantém um sorriso afável e impessoal, parecendo confirmar ou concordar com tudo que se passa a sua volta. Noutro dia sentei-me diante desse rosto ‘que não vê você’ e procurei captar seu ensinamento: ao lado, em um bistrô, pessoas se divertiam ouvindo música; na loja, outras entravam e saiam, crianças choravam já cansadas de tanto passear, e por trás, em uma pequena igreja, devotos cantavam acompanhando a missa vespertina. Olhei aquele rosto e seu sorriso permanecia o mesmo; fiz uma observação a respeito da confusão ao seu redor, e o sorriso continuou igual. Indaguei-lhe, então, sobre a impermanência das coisas da vida e o sorriso se tornou mais sereno ainda. Senti que minha idéia básica estava confirmada: o bom humor se acha entrelaçado à divina sabedoria!

terça-feira, 19 de outubro de 2010

A "Cosmoterapia" de Huberto Rohden

"A alopatia reprime os sintomas mórbidos do corpo material. A homeopatia elimina as desarmonias do corpo astral. A cosmoterapia cura o homem de modo integral. Doença não faz parte do macrocosmo sideral, nem do microcosmo hominal. A Alma do Universo é perfeita saúde e sanidade. Amigo, mantém harmonia com o Universo da tua alma, da tua mente e corpo. Mantém harmonia com o sistema planetário da tua natureza humana. Põe no centro o sol do Espírito e faz gravitar em torno dele os planetas dos teus sentimentos, pensamentos e emoções. E teu universo hominal cantará a sinfonia do Universo sideral!
Realiza a tua Cosmoterapia!, e todo o caos de tuas angústias e moléstias será substituido pelo cosmos da saúde e da felicidade. Todas as tuas desarmonias têm início em teus pensamentos: o homem é aquilo que ele pensa em seu coração! Quem pensa errado, vive errado - quem pensa certo, vive certo! Teu pensamento é certo quando harmoniza com teu Ser. Teu Ser é o Espírito de Deus. Tua consciência é a vóz de Deus em ti. Sintoniza teu agir com teu Ser, e estarás em sintonia com Deus. Esta Cosmoterapia te garantirá santidade, sapiência e sanidade. Santidade da alma, sanidade da mente e saúde ao corpo.
Para gozar desta gloriosa cosmoterapia, dessa cura pelo espírito, deve o homem diariamente contatar o centro cósmico em si mesmo, que os hindus chamam  Atman, que Jesus chama Alma e que os filósofos chamam Eu verdadeiro. Pela cosmo-meditação alcança o homem a cosmoterapia, e a saúde da alma dará saúde ao corpo. A plenitude espiritual transbordará em abundância material, realizando o homem integral, o homem cósmico, o homem crístico!"
By Huberto Rohden, do livro "De Alma para Alma", edt. Martin-Claret, S.P.

sábado, 16 de outubro de 2010

A Observação Consciente é a Chave Áurea para a Espiritualidade, diz Osho

Osho afirma que a arte de 'testemunhar' (as próprias disposições) é a chave para a vida espiritual! Ele enfatiza para que observemos todos nossos momentos, mas com isenção. Osho diz que a arte de observar faz com que aquilo que é inútil, desapareça. Este 'conto' ilustra bem seu pensamento:
"Era uma prática regular de um místico chamado Baal Shem, quando desse meia-noite retirava-se para a beira do rio, e sentando-se, entrava em absoluto silêncio! O vigia de uma vizinha mansão, todavia, ficou intrigado com  o comportamento do místico. Certa noite, ao soar 12 horas, quando Baal Shem apareceu, o guardião correu até ele e lhe perguntou: 
'Senhor, o que vem fazer aqui todas as noites, sentando-se em silêncio no escuro?'
Baal Shem ao invéz de responder, contrapôs: 'Qual é seu trabalho?', ao que o guarda respondeu: 'Sou vigia, senhor.' Baal Shem, então lhe diz: 'Bem, eu também sou um vigia!' O outro, muito surpreso, insistiu: 'Mas, sendo um vigia, que vem fazer aqui todas as noites?' Baal Shem sentenciou: 'Você vigia a casa de alguém, porém, eu vigio minha própria casa! Onde quer que eu vá, estou vigilante, pois trago comigo minha casa! Sou continuamente seu vigia!"

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

A Verdade sobre o Atman, segundo a Bhagavad-Gitâ


"Assim falou o abençoado Senhor Krishna" (cap.II)
Tradução do Swami Vijoyananda, edt. Kier-Bs.As.

11. Tens estado a lamentar-te por aqueles que não merecem, e sem dúvida, falas como um sábio. Porém, os verdadeiros sábios não se lamentam, nem pelos vivos, nem pelos mortos.
12. Nunca houve um tempo em que Eu não existisse, nem tu ou estes reis e nem deixaremos de existir no futuro.
13. Assim como o Ser encarnado tem sua infância, juventude e velhice, na seqüência ele toma outro corpo. Os sábios não se confundem sobre este ponto.
14. Oh Arjuna, as noções de calor e frio, prazer e dor, nascem do contato dos sentidos com os objetos, têm portanto princípio e fim, são transitórios.
15. Aceita-os! Somente aquele que não se aflige com estas modificações, sendo equânime no prazer e na dor, alcança imortalidade.
16. O irreal jamais existiu e o real sempre existirá. Os sábios conhecem esta verdade.
17. Sabe que é imperecível Aquilo que permeia todo o Universo. Nada pode destruir este Princípio imutável.
18. Estes corpos em que habita o Eterno, o imperecível Ser, porém, têm fim.
19. Quem pensa que este Ser mata ou que é morto, é ignorante. O Ser não mata nem morre.
20. O Ser não nasce nem morre, nem se reencarna; não tem origem, é eterno, imutável e o primeiro de todos.
21. Aquele que sabe que o Ser é imperecível, eterno e sem nascimento, como pode matar ou morrer?
22. Como alguém que abandona suas vestes gastas e coloca outras novas, assim o Ser corpóreo deixa seu corpo desgastado e entra em um outro novo.
23. Armas não o destroem, o fogo não o queima, a água não o molha e o vento não o seca.
24. A este Ser não se pode dividir, nem queimar, nem molhar, nem secar; é eterno, onipresente, estável, imóvel e primordial.
25. Se diz que este Ser é imanifestável aos sentidos, impensável pela mente, e não se modifica; sabendo que é assim, não te podes afligir!

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

"O Conhecimento de Deus", de acordo com Sri Ramakrishna

Enquanto o entardecer se aproximava, algumas lamparinas foram acesas na sala e na varanda. Sri Ramakrishna se inclinou diante da Mãe Divina e iniciou o cântico do nome de Deus. Os devotos sentaram-se ao redor, escutando seu doce murmurar. Depois de algum tempo, Sri Ramakrishna falou:

“Se um homem desfruta da alegria de Deus, não consegue desfrutar do mundo. Havendo experimentado a felicidade divina, o mundo lhe parece insípido. As pessoas falam sobre levar uma vida religiosa estando no mundo. Porém, se apenas uma vez experimentassem a alegria divina, não poderiam desfrutar de nada mais. Seu apego aos deveres mundanos iria declinar. Seu deleite espiritual se aprofundando, não poderiam mais levar a cabo seus deveres com o mundo. Pois, mais e mais, haveriam de procurar somente esta alegria. Podem os prazeres sensuais ser comparados ao prazer com Deus? Se ele experimentar deste prazer, importa muito pouco a ele se o mundo continua ou desapareceu.
Estas pessoas dizem que estarão atentas tanto a Deus quanto ao mundo. Após beber um pouco de vinho, alguém pode ficar agradavelmente embriagado e também consciente do mundo; porém, poderá continuar assim quando houver bebido um tanto mais?
Depois da divina embriaguez nada mais tem bom sabor. Então, falar de ‘luxo e luxúria’ é como apunhalar o coração. (Em voz alta): ‘Eu não posso gostar da conversa das pessoas mundanas’.
Quando alguém se torna louco por Deus, não pode gostar mais de dinheiro e coisas assim.”

Devoto: Então, o senhor admite que um homem possa levar vida espiritual estando no mundo?


Mestre: Sim, mas primeiro tem que alcançar Conhecimento e só então viver no mundo. Primeiro tem de realizar a Deus, depois poderá ‘nadar em um mar de calúnia sem se manchar’. Após a realização de Deus, ele pode viver no mundo como o peixe cascudo. Este mundo em que está, após a realização espiritual - é o mundo de vidya, onde não se percebe nem luxo nem luxúria. Ele aí encontra apenas devoção, o devoto e Deus. (...)  Por que se preocupar tanto com o aspecto infinito de Deus? Se quero tocar você, preciso tocar todo seu corpo? Se você deseja banhar-se no Ganges, tem que nadar desde Hardwar até o oceano?
Todos os problemas terminam quando o ego desaparece. Enquanto um traço da ego consciência permanecer, a pessoa estará vendo diferenças. Ninguém sabe o que restará após o desaparecimento do ego, pois não se pode expressar isso em palavras. Aquilo que é, apenas, permanece!
Satchidananda é o oceano. O pote do ‘eu’ está imerso nele. Enquanto o pote existir, a água parecerá dividida em duas partes: uma parte dentro do pote e a outra parte fora. Mas, quando o pote for quebrado restará apenas uma extensão de água. Nem mesmo isto pode ser dito, quem o diria? Excertos de "Sri Sri Ramakrishna Kathamrita", de Mahendranath Gupta (M.)
Mais sobre Sri Ramakrishna em http://www.vedanta.org.br/

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Existindo como Consciência... (parte II)

A mente, neste estado de clara percepção, é a mente 'em meditação'. Neste estado, não é mais a mente pensante, ou projetiva ou condicionada. Ao ser extinta a mente, o que resta é bhava ou  pura existência. Esta experiência é denominada amani-bhava, o estado sem a mente ou Nirvana. O estado contrário é mani-bhava, é sânsara (preenchido pela mente). Você e eu (como dualidade) somos apenas a mente. Enquanto estivermos identificados com ela, estaremos bem distantes da Realidade, que é Uma sem segundo. Mas, no momento em que você se esquece da mente, torna-se Aquilo (Tat Tvam Asi).
Você não tem que solicitar a permissão de alguém para se esquecer da mente e se identificar com a Verdade de seu próprio Ser. É sua prerrogativa. Porém, se não estiver pronto para transcender a mente, nenhuma quantidade de estudo das escrituras, de sermões e exercícios espirituais póderá ajudar, porque você estará apenas seguindo sua própria mente. Temos de experienciar diretamente a Verdade, que transcende o fenomenal e supera tanto o conhecido, quanto o desconhecido. Mas, enquanto a mente estiver funcionando, a Verdade não poderá ser realizada diretamente. Pare de funcionar através da mente e se tornará consciente da Realidade. Este estado de transcender a mente é a mais elevada forma de evolução.
Para aquele que está amadurecido, o desafio agora é tornar-se um homem-deus, e para isso devemos trabalhar. Temos que suspender o jogo da mente - o jogo das 4 interpretações: de qualidade, de atividade, de adjetivos e de relacionamentos. Toma apenas uma fração de segundo para entender que é possível suspender o jogo da mente e realizar que não somos a mente! Este entendimento é suficiente!
Após havermos, desse modo, conhecido o real potencial de nossa natureza e personalidade, então podemos começar a brincar com a mente. Daí em frente, em toda atividade, haverá um novo sentido de liberdade, pois já teremos entendido que não somos aquelas limitações. Aquelas limitações e interpretações são apenas da mente, não são nossas! Qualquer experiência passa a ser, assim, como um 'trampolim' para que você se projete rumo aquela existência mais Elevada.
By Swami Chinmayananda no livro "The Highest Truth".

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Os quatro véus que encobrem a Realidade

Este é um texto bastante sintético, em que o autor, Swami Chinmayananda, resumidamente expõe as condições causadoras de nossos condicionamentos e  porque nos identificamos tanto com as coisas e as situações, e nos tornamos dependentes de nossas próprias observações.

Como dissolver a mente e existir como Consciência
Vejamos agora como é possível anular ou dissolver a mente. A mente, com seus pensamentos, percepções e projeções, existe somente devido a 4 interpretações: de qualidade (gunas), de atividade (kriya), de adjetivos (visesa) e de relacionamento ou familiaridade (sambhanda). Por causa destas interpretações da mente, sempre que ela entra em funcionamento, o faz apenas através delas. De outro modo: a mente vê uma qualidade em algum objeto e diz - 'Como é belo!' Ou fica pensando em termos de atividade, e afirma - 'Como se movimenta!', ou em termos de adjetivos - 'Oh, que lindo azul!', ou ainda , em termos de relacionamento - 'Esta pessoa se parece comigo!'
Sendo assim, quando vemos um objeto através de nossa mente condicionada e projetiva, nunca vemos o objeto tal como é. Seguimos vendo-o 'colorido' pela interpretação de nossa mente. Diz um ditado que "aquele que não possui reto-conhecimento (da Verdade), não vê, embora esteja olhando."  Ele vê somente suas projeções, seus próprios pensamentos.
Olhe para uma flor, por exemplo, e perceba os pensamentos que surgem à mente: 'Mas, que linda flor. E de cor amarela! É um narciso. Minha amiga também plantou narcisos em seu jardim. Talvez eu também devesse plantá-los!' Ou seja, enquanto você observa a flor, não a está vendo, é como se ela fosse apenas um 'trampolin' para sua mente se projetar. Esta mente pensante é, por associação, como um fluído-mental.
Assim, quando se olha para algo, não se vê a coisa em si, mas se pudermos ver a flor como flor, como ela é, veremos a Brahman tão somente. Remova qualidade, movimento, adjetivos e relacionamentos e veja somente a flor! Aquilo que você vê, dessa forma, é a Consciência. Portanto, tome qualquer coisa, uma folha de relva, sem chamá-la por nenhum nome, remova os quatro julgamentos ou inferências, e veja-a. Ou, então, a um amigo: esqueça seu nome, sexo, idade, qualidades e suas ações. Olhe para qualquer coisa, seja um átomo, seja o universo. Se estas 4 interpretações forem removidas, a mente pensante terá sido aniquilada. Então, neste momento lúcido e calmo de não objetividade, você é você mesmo, o puro ser. Lembre-se de que estas 4 inferências não passam de tagarelice da mente. Remova-as, e então, veja! O que restar é o 'estado de Consciência Pura'.
Estrato do livro "The Highest Truth", do rev. Swami Chinmayananda, publicado pela Chinmaya Mission, Índia.

OM Namah Shivaia - encontro Oriente e Ocidente



Meditação em Yoga: Em yoga Clássica, a yoga de Patanjali, ciência que demonstra a potencialidade possível ao homem, há oito passos a completar, envolvendo disciplinas tanto físicas qto. mentais. Na 1ª destas etapas, se acham disciplinas relativas à autoeducação, ou auto-controle, tais como: não violência (ahimsa), veracidade (satyagraha), continência (brahmacharya), etc. Na etapa seguinte, dita das 'observâncias', estão a prática de pureza, contentamento, esforço sobre si mesmo, estudo e consagração ao Ideal.

O 3° passo, ou 3ª pétala da Flor de Yoga, trata das posturas ou âsanas, ou seja, os modelos gestuais recomendados aos que aspiram algum domínio sobre seu corpo. A quarta etapa é dos 'pranayamas', isto é, as disciplinas necessárias ao controle da energia através da respiração. Pratyahara é a etapa em que se aprende a controlar os sentidos. Dhârana, a 6ª etapa, se ensina a concentração da atenção. O sétimo passo, denominado Dhyâna, se refere às tecnicas de introspecção ou de meditação, e o último degráu chama-se Samadhi, ou completa absorção no Ideal Espiritual.

Este é o caminho de Yoga, relevante símbolo atual do encontro entre Ocidente e Oriente.

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